Israel e Palestina nos mapas online: o que visualizamos e porque visibilizamos
Posted by antoniolaranjeira on 17 July 2020 in Brazilian Portuguese (Português do Brasil).Desde o advento das plataformas, como Google Maps e OpenStreetMap, pesquisas estimam que consumimos mais mapas em 24 horas que foram consumidos mapas em 2000 anos desde a criação da Cartografia. A constatação da aceleração da produção e do consumo dos mapas esconde questões profundas da atualidade em relação às guerras pelo direito ao território. Conforme tratei anteriormente — em um texto intitulado Por que devemos falar sobre mapas para todos? — a questão sobre quem faz e quem usa o mapa é preliminar para pensarmos na representação mais justa de um território. Incorremos na netnografia no ambiente das plataformas de mapas online (ou “geoweb”, abreviatura do termo técnico “geoespacial web 2.0”) para explicarmos porque o Google Maps não reconhece a Palestina na sua base de dados e porque é plenamente possível visualizar via OpenStreetMap a diferença entre os territórios de Israel e Palestina através de fronteiras (na cor laranja).
Se observarmos o mapa da plataforma livre (figura à esquerda), produzido por voluntários, podemos visualizar as ocupações militares dos territórios do mundo: são zonas em vermelho e tracejado na diagonal dispostas nas fronteiras ao sul de Israel e ao leste da Palestina. A Faixa de Gaza é a maior zona de conflito por que fica desanexada do centro de poder e aproximada de uma zona litorânea com uma zona militar ao sudoeste, na fronteira com o Egito, estado aliado de Israel. Para a plataforma proprietária de mapas (figura à direita), a “Palestina” é uma área delimitada por um tracejado em relação as fronteiras de Israel (com destaque para a Faixa de Gaza descrita como equivalente à Cisjordânia, o que é geopoliticamente incompatível). O “tracejado” é considerado tecnicamente como um recurso gráfico também utilizado em outros casos pelo Google Maps, como os estados de Jamu e Caxemira, ao norte do Nepal, em relação ao território hegemônico do estado da China. Na geopolítica, são essas porosidades do tracejo das fronteiras as “brechas simbólicas” para a forte entrada de tecnologias e de ideologias bélicas neste caso do Oriente Médio. Observar os detalhes dos mapas é necessário para um leitura radicalmente humanitária sobre a verdade e justiça dos discursos que eles circulam mundialmente.
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